segunda-feira, 30 de março de 2009

Subway


"A compreensao de que nossas vontades sao uma forma de prisao, e nao de liberdade, eh o primeiro passo para sua superacao. A observacao desse mecanismo eh, em si mesma, uma poderosa forma de libertacao."

Padma Samten

"Quando estamos dispostos a admitir que somos seres humanos iguauis aos outros, entao talvez tambem possamos perdoar.
Antes de mais nada, perdoe-se, nao por ter feito algo errado, mas por ter pensado que estava fazendo algo errado. Eh isso mesmo, seu ser humano! Voce provavelmente pensou que havia algo errado com voce. Algo que voce nao queria que ninguem mais soubesse. Por isso, voce se escondeu... Sentir-se desta maneira obscurece nossa vista e guia nossas acoes, o que provavelmente nos tira de sintonia com a experiencia que estavamos buscando."

Iyanla Vanzant

Descobrir o que eh ser humano tem sido tarefa para muitos, e descoberto por poucos. Nao que por falta de comunicacao dos que conseguiram. Uma vez que um chega la, imediatamente reporta o caminho para todos os demais, e, assim, temos milhares de escritos e discursos sobre o tema. Porem o que nos faz realmente ter sucesso nessa descoberta eh a busca em si mesmo.
Podemos, muitas vezes, confundir o que eh ser humano com o ego, senhor das vontades. Talvez possamos ate pensar que o caminho para ser feliz eh a realizacao de todas essas nossas vontades, desejos, querencias. O Querer so nos leva a escravidao da realizacao superficial da vida. Nao digo superficial somente de superfulos, mas rasa, sem a busca desse significado.
Outras vezes, achamos que como somos seres humanos, e a natureza desse ser eh imperfeita, nao eh necessario se preocupar em aperfeicoamento, se vamos errar mesmo, por que "lutar contra essa natureza"? Seria gasto de energia a toa. A justificativa, a desculpa, ao inves de nos libertar para a vida, nos aprisiona na culpa.
Escondemos que somos seres humanos para outros seres humanos. Apresentamos uma imagem do que achamos do que os outros esperam de nos para obter algo que achamos precisar (tanto necessitar quanto saber ao certo). E acabamos na armadilha, achando que brincar de esconde-esconde era a melhor forma de nao ser perseguido, quando descobrimos que quem nos persegue somos nos mesmos.
Essa perseguicao que nos incomoda grande parte do tempo eh sua essencia pedindo atencao para que voce tenha a resposta. A questao eh que nao sabemos nem a pergunta, porque nao paramos para ouvir a nos mesmos. Esse gato-e-rato so para quando paramos de lutar contra o fato que somente teremos paz de espirito na medida que fomos nos transformando em espiritos da paz, do perdao e do amor.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Let it go

"Muita alegria e felicidade vem de sair ou deixar algo para tras. Ha muitas coisas que nao somos capazes de deixar para tras, que nos prendem. Pratique olhar em profundidade para essas coisas. No comeco, voce pode achar que elas sao vitais para sua felicidade, mas elas podem, na verdade, ser obstaculos para sua verdadeira felicidade, causando seu sofrimento. Se voce nao esta feliz porque esta preso nelas, deixa-las para tras sera fonte de alegria para voce. Olhe para as coisas que voce acha necessarias para seu bem estar e felicidade e descrubra se elas lhe trazem felicidade ou estao quase o matando."

Thich Nhat Hanh

Penso ja ter trazido esse pensamento para reflexao por aqui, mas ele me tocou novamente no dia de hoje, especialmente. Ao arrumar uma nova casa, analisamos o que ja havia nela, o que tinhamos na antiga, o que precisamos de novo. O que realmente precisamos? Na antiga todos os confortos e superfulos, talvez ate um pensamento de que ainda falta alguma coisa para ser mais bonita ou para ser mais feliz.
A pratica do desapego pode ser mais facil quando tratamos de coisas materiais, pois o desapego aos sentimentos eh coisa mais profunda. Mas ao se deparar com uma mala por fazer, uma mudanca de endereco, ou ate mesmo dividir o espaco com um novo alguem, voce inevitavelmente se depara com um nivel palpavel do apego. Ter que deixar pra tras, vender, dar, se desfazer. Ir para o novo local, onde nao ha, faz-nos perguntar: do que realmente preciso para viver? Eh possivel comecar com uma nova consciencia sobre posse e consumo?
E sobre uma nova consciencia sobre convivencia? Eh possivel compartilhar o espaco com outros seres, eh possivel viver em verdadeira comunidade, com as pessoas, com os animais e plantas, com o ar e a energia? Sou um agente de imposicao autoritaria da minha presenca, ou agregador e transformador? Expando a energia ou sou um parasita sugador?

quinta-feira, 12 de março de 2009

Bye Bye Brasil


"Por que escrevo? Antes de tudo porque captei o espírito da língua e assim às vezes a forma é que faz conteúdo. Escrevo portanto não por causa da nordestina mas por motivo grave de "força maior", como se diz nos requerimentos oficiais, por "força da lei".Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite. Embora não aguente bem ouvir um assovio no escuro, e passos."

Clarice Lispector

Eis que é a “Hora da Estrela”. Busco meu brilho interior escrevendo, como Clarice. Relendo esse seu texto sombrio e lamurioso, lembro-me de como queria ser como ela. Não exatamente pelo tom desse seu escrito, mas pela personagem que é.
Antes de tudo mulher, no completo sentido da palavra. Ela arriscou ser mulher em toda sua plenitude quando ainda não era uma exigência, a foi por opção. Linda e inteligente, já teve que lidar com o fato de ser alien desde pequena: uma ucraniana no Brasil. E depois confirmou essa sua sina de ser do mundo. Casada com um diplomata brasileiro, mais se mudou que morou nos diversos países por onde acompanhou seu marido. Também com filhos, não por todas essas circunstâncias deixou de ter uma profissão: escritora. Fez faculdade de Direito, foi Jornalista, e um dia se deu conta que escrever era parte do ar que respirava.
Mesmo tímida, usando pseudônimos, não censurava o que escrevia: era dona de casa, era despudorada, era intelectual, era insegura, era obscura, era alegre, era ela. Sofria, e ao mesmo tempo contemplava sua vida. Sempre questionou a vida, e nunca questionou o fato da vida ser um sem fim de perguntas sem respostas.
É esse o caminho que escolho. Quero ser a melhor eu mesma que Clarice poderia ser. Com olhos nesse espírito de mulher, caminho rumo a ser humana, escrevo a estrada e cada encruzilhada da minha vida. Com essa estrela como guia, é a hora de brilhar em outras constelações.