quinta-feira, 20 de maio de 2010

Silêncio interior

(Yao Xin Shakya)

Sobre parar, acalmar, descansar, curar e transformar: a quietude pode curar e transformar.

A quietude, o silêncio (de mente e corpo), às vezes pode “assustar” um pouco. Por quê? Porque estamos tão acostumados a preencher tudo - desde a solidão até à falta de comunicação - com “ruídos” que estranhamos quando se faz silêncio! E o que não é familiar, pode assustar.

É importante notar que, entre outras coisas, silêncio também significa não falar. Podemos notar que muito do que dizemos a cada dia é apenas para “preencher o silêncio”. Olhe, você pode descobrir que, muitas vezes, um sorriso “preencherá”. Um toque suave, uma mão repousando brevemente sobre a outra, podem “preencher” e ter seu lugar ao invés da fala. É uma interessante experiência ser tão silencioso quanto possível mesmo que apenas por um dia (que você escolhe assim fazer).

O modo de viver zen preza o silêncio. Nos centros zen preza-se o silêncio. Quem participa de reuniões onde se preza o “Nobre Silêncio”, sabe que esse silêncio (e exercício prático) é poderoso. Freqüentemente, estar realmente presente, aqui e agora, pode simplesmente substituir a fala. Mais ainda: com muita freqüência, palavras são pedras no caminho de se estar realmente presente.

A quietude é uma jóia preciosa e a experiência mostra que a meditação “cria (ou descobre) ilhas de quietude”. Experimente meditar, então.

Vamos cultivar e sustentar a prática?

Exercite-se! Afinal, quantos não vão à academia para exercitar e cultivar o corpo? E por que não “ir”, então, a uma “academia da mente”? Por que não cultivar e exercitar a mente?

Passe pelo menos cinco minutos de cada dia sem “nada fazer”. Neste tempo, apenas “note” emoções, percepções, sentimentos, os sons, visões, odores, sabores, etc., sem “persegui-los, classificá-los ou julgá-los”. Esta é uma forma de cultivar o silêncio interior.

“Cultive o estado quieto, calmo e estável da mente. Quando elogiado por uns e criticado por outros, liberte-se do orgulho e da raiva e gentilmente siga seu caminho em paz.” (Buda)

terça-feira, 4 de maio de 2010

O peso que a gente leva.


Texto enviado por minha Tia Madrinha e dedicado a minha companheira viajante Dri. Infelizmente não tenho o nome do autor.
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O perigo da viagem mora nas malas.
Elas podem nos impedir de apreciar a beleza que nos espera.
Minhas malas são sempre superiores às minhas necessidades.
É por isso que minhas partidas e chegadas são mais penosas do que deveriam.

Ando pensando sobre as malas que levamos...
Elas são expressões dos nossos medos.
Elas representam nossas inseguranças..

Olho para o viajante com suas imensas bagagens e fico curioso
para saber o que há dentro das estruturas etiquetadas.
Tudo o que ele leva está diretamente ligado ao medo de necessitar.
Roupas diversas; de frio, de calor – o clima pode mudar a qualquer momento!
– remédios, segredos, livros, chinelos, guarda chuva – e se chover?
– cremes, sabonetes, ferro elétrico – isso mesmo!
– Microondas? – Comunique-me, por favor, se alguém já ousou levar!

O fato é que elas representam nossas inseguranças. Digo por mim.
Sempre que saio de casa levo comigo a pretensão de deslocar o meu mundo.
Tenho medo do que vou enfrentar..
Quero fazer caber no pequeno espaço a totalidade dos meus significados.
As justificativas são racionais. Correspondem às regras do bom senso,
preocupações naturais para quem não gosta de viver privações.

Nós nos justificamos: Posso precisar disso, posso precisar daquilo...
Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas.
Excedem aos tamanhos permitidos. Já imaginou chegar ao aeroporto
carregando o colchão para ser despachado?

As perguntas são muitas...
E se eu tiver vontade disto ou daquilo? Desisto!
Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida... e vou.
Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então,
inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra nada.

É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências.
E nisso mora o encanto da viagem.
Viajar é descobrir o mundo que não temos.
É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.
E então descubro o motivo que levou o poeta cantar: “Bom é partir. Bom mesmo é poder voltar!”

Ele tinha razão. A partida nos abre os olhos para o que deixamos.
A distância nos permite mensurar os espaços deixados.
Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam quem somos, o que
amamos e o que é essencial para que a gente continue sendo.

Ao ver o mundo que não é meu, eu me reencontro com desejo de amar ainda mais o meu território.
É consequência natural que faz o coração querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou.
É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.

Vida e viagens seguem as mesmas regras.
Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver.
Por isso é tão necessário partir. Sair na direção das realidades que nos ausentam.
Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias....

Andar na direção do outro é também fazer uma viagem.
Mas não leve muita coisa.
Não tenha medo das ausências que sentirá ao adentrar o território alheio.
Quem sabe assim os seus olhos se abram para enxergar de um jeito novo o território que é seu.
Não leve os seus pesos. Eles não lhe permitirão encontrar o outro.
" Viaje leve, leve, bem leve. Mas se leve " .